quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

FILOSOFIA DE ACAMPAMENTO


Não tentaremos aqui abordar qualquer outro tipo de acampamento senão o acampamento juvenil / adolescente cristão, mais especificamente o acampamento realizado pelo Clube de Desbravadores. Abordaremos os seguintes temas: o acampamento, sua filosofia, propósito e objetivos; o acampante, seu perfil, suas obrigações, disposições, e direitos; os líderes do acampamento (líderes do Clube de Desbravadores), suas obrigações para com os juvenis e adolescentes, para com os pais e responsáveis e para com Deus.
Reconhecemos, porém, que o que aqui for tratado não atenderá todas as necessidades que o tema sugere, contudo, procurarei expor o máximo possível do conhecimento que tenho e da pesquisa realizada, bem como dos conhecimentos que outros a mim compartilharam.

O acampamento, seus participantes e os líderes
Talvez seja coerente começar pela definição do que seria um acampamento. Certa feita, o missionário cristão Paul Zimmerman, define o acampamento cristão como sendo uma “experiência grupal num local ao ar livre, por tempo prolongado, sob a direção de uma liderança treinada com objetivos espirituais” [1]. Observe que Zimmerman nem mesmo faz menção a recreação e ao desenvolvimento físico. Não quero com isto dizer que tais pontos não são importantes, mas sim, que o contato com Deus através da natureza deve ser e realmente é o ponto central do acampamento (entenda-se a partir de agora acampamento como sendo acampamento juvenil / adolescente cristão).
Lloyd Mattson [2] apresenta em seu livro O Acampamento Cristão nos Dias de Hoje, o que ela denomina “Os Sete Teoremas do Acampar”, os quais foram aqui adaptados:
1. O acampamento é o meio mais promissor que a igreja tem para ganhar crianças e jovens para Cristo e guiá-los ao crescimento.
2. A experiência do acampamento é um pacote: o potencial para a descoberta espiritual está presente em cada momento e em cada relacionamento.
3. A testemunha cristã mais poderosa do acampamento é o estilo de vida da equipe – tanto de seu membro individualmente, como do grupo.
4. O sucesso do acampamento repousa primariamente nas mãos da equipe.
5. Todo líder tem a mesma responsabilidade pelo bem-estar dos acampantes e compartilha igualmente das vitórias do acampamento.
6. O que conta para os acampantes não são as idéias às quais são expostos, mas sim as idéias que levam para casa.
7. O momento de ensino é o princípio mais útil do acampamento para guiar os acampantes a uma descoberta espiritual.
Mattson ainda nos fala de cinco distintivos do acampamento [3]:
· Experiência Grupal
· Tempo Prolongado
· Local ao Ar Livre
· Liderança Treinada
· Objetivos Espirituais

O acampamento deve ser um momento de intenso relacionamento com Deus através da natureza e do companheirismo. Não deveriam os líderes (entenda-se líderes como sendo os líderes – investidos ou não – a diretoria do Clube de Desbravadores) saturar o acampamento de atividades de forma a impedir o acampante ter um momento com a natureza e com os demais acampantes. À frente estudaremos a importância que Ellen White dá a este ponto.
Antes, o acampamento deve providenciar o relacionamento, como sugere Oduvaldo Pereira[4], do seguinte modo:
Tal relacionamento tem por principal objetivo providenciar a salvação do individuo. E o relacionamento com Deus e com o próximo é a porta de acesso a este objetivo, devendo o acampamento providenciar oportunidades para que isto se torne real.
Ellen White tem muito a nos dizer do poder que o contato com a natureza tem de proporcionar ao individuo conhecimento de Deus. Abordemos algumas citações de White:
Deus revelado por meio da natureza
“Suas coisas invisíveis desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como Sua divindade, se entende, e claramente se vêem pelas coisas criadas (Rm 1:20). As coisas da Natureza que agora contemplamos não nos dão senão uma fraca idéia da glória do Éden. O pecado manchou a beleza da Terra; podem-se ver em tudo os vestígios da obra do mal. Todavia, permanece muita coisa bela. A natureza testifica de que Alguém, infinito em poder, grande em bondade, misericórdia e amor, criou a Terra, enchendo-a de vida e alegria. (...) Para onde quer que nos volvamos, podemos ouvir a voz de Deus, e ver testemunhos de Sua bondade”. [5]
Segundo revelado a White, a Natureza revela a Deus, tal como relata o apóstolo Paulo aos romanos. Permitir aos juvenis acampantes que contemplem a Natureza, é permitir-lhes conhecer ao Criador. Mesmo manchada pelo pecado que assola nosso planeta, a criação tem o poder de nos conduzir ao Mantenedor de tudo que foi criado.
Comentando a infância de Jesus, Ellen diz:
“Desviado dos profanos métodos do mundo, adquiriu da Natureza acumulados conhecimentos científicos. Estudava a vida das plantas e dos animais bem como a dos homens. Desde a mais tenra idade, possuía-O um único desígnio: viva para beneficiar os outros.” [6]
Vejam donde o Cristo adquiriu o conhecimento que transbordava em suas palavras: contemplação da criação. Na página seguinte (DTN, 49), ela completa dizendo:
“Toda criança pode adquirir conhecimento como Jesus adquiriu.”
Que importante lição todos os líderes podem retirar destes textos! Se o acampamento for bem planejado, nossos meninos podem ser elevados à semelhança de Jesus. Talvez agora seja um bom momento para relembrarmos o 4º Teorema do Acampar de Mettson: “O sucesso do acampamento repousa primariamente nas mãos da equipe.” Se o objetivo de redimir os acampantes não é alcançado, se o juvenil não forjou seu caráter à semelhança do de Cristo, repousa sobre a equipe organizadora a responsabilidade. Norman Wright diz que “por ser Jesus o centro de toda a programação do acampamento, os acampantes de todas as idades podem vir a conhecê-lo face a face, uns pela primeira vez e outros talvez cheguem apenas a renovar, de um modo vivo e vital, seu relacionamento com Deus.” [7]
Lembrem-se os líderes que o acampamento deve exaltar valores cristãos, tais como:
· Comunidade genuína
· Ministério integral
· Construção de relacionamentos
· Enriquecimento de experiências
· Desenvolvimento de liderança
· Crescimento da igreja [8]
Quero ainda relatar aqui, um pensamento de Wright, que diz:
“A experiência de muitos anos comprova que o acampamento é uma das mais poderosas e efetivas ferramentas no desenvolvimento total da pessoa cristã. “ [9]
A Associação Nacional de Escolas Dominicais e Acampamentos dos Estados Unidos criou uma lista de alvos para o acampamento cristão que pode ser adaptado ao acampamento do Clube de Desbravadores. Leia com atenção:
Tratar os acampantes em base individual, aconselhando-os pessoalmente nas áreas de suas necessidades espirituais.
Encorajar uma decisão definida ao nível de prontidão de cada acampante.
Ajudá-los a estabelecer bons hábitos de vida cristã: oração, leitura e estudo da Bíblia, devocional, freqüência à igreja e evangelização.
Ter experiências práticas nas áreas de liderança, serviço, testemunho e aplicação das verdades bíblicas à vida diária. [10]
Além destes objetivos já propostos, Wright propõe mais seis alvos que valem a pena serem estudados:
Estabelecimento de bons hábitos de saúde como higiene pessoal, descanso suficiente, dieta balanceada, exercício completo e boas atitudes para com o corpo como templo do Espírito Santo.
Boa utilização do tempo livre, independente de maquinários artificiais como TV, vídeo games, rádio, telefone etc., sabendo divertir-se sem o auxílio destas coisas.
Aprendizagem de habilidades manuais e de camping em geral como meio de desenvolvimento do caráter, e treinamento que possa ser de valia no campo missionário.
Desenvolvimento sem egoísmo de habilidades na área de relacionamentos interpessoais.
Aprendizagem de habilidades efetivas de liderança.
Assumir responsabilidade por seus próprios atos e decisões. [11]
Nem todo acampante que não alcança o êxito tem por culpado a si, considerando que o líder tem grande responsabilidade; contudo, não podemos também afirmar que todo fracasso seja resultado de uma má liderança. É bem certo que tais alvos somente serão alcançados se houver uma disposição dos acampantes de transformação e de alcançarem a semelhança do menino Jesus o pleno conhecimento do Pai.
Cada desbravador deve ter assumido um compromisso consigo mesmo para que o objetivo central e os objetivos periféricos sejam alcançados. Os líderes não podem e nem devem forçar nenhum juvenil a situação alguma, contudo, pode o líder, antes do acampamento estipular normas e objetivos, que cada provável acampante deve aceitar e tentar ao máximo alcançar e seguir.
Concluo fazendo minhas as palavras do Manual MV de 1970:
“O acampamento de desbravadores não é meramente um período de férias ou estadia ao ar livre ou excursão. Há, naturalmente, recreação revigorante e refrigeradora tanto para o corpo como para a mente; mas ao mantermos estes acampamentos temos um propósito mais abarcante – não meramente o de recreação, mas o adestramento do corpo e da mente e alma. O programa é planejado e executado de modo a prover todas as vantagens para a saúde física, a agilidade mental e a influencia espiritual, com incentivos que apelam.” [12]
[1] MATTSON, Lloyd. O acampamento cristão nos dias de hoje: um manual completo para a equipe. Tradução de
Eni Dell Mullins Fonseca. Campinas – SP: Parakletos, 2000. Página 16.
[2] Idem, 14 e 15.
[3] Idem, 16.
[4] PEREIRA, Oduvaldo. Acampamento e retiro: método moderno de ministério cristão dinâmico. São Paulo: Candeia, 1998. Página 48.
[5] WHITE, Ellen. A ciência do bom viver. Tradução de Carlos A. Trezza. 9. ed. Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998. Páginas 410 e 411.
[6] _______ O desejado de todas as nações. Tradução de Isolina A. Waldvogel. Santo André – SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965. Página 48.
[7] WRIGHT, Norman. Socorro! sou equipante de acampamento. Tradução de Alan Graig Mullins. São Paulo: Paracletos, 1998. Página 12.
[8] MATTSON, 19.
[9] WRIGHT, Página 12.
[10] Idem, 13.
[11] Ibidem.
[12] Manual MV, 1970. Página 65. (Adaptado)

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